O empreendedorismo tem sido uma marca da nossa história recente, e já em 2001 e 2007 Portugal estava no top da lista das nações mais empreendedoras da Europa (como demonstra, por exemplo, esta tese de doutoramento da Daniela Pacheco Moura). Não será alheio a este sucesso a proliferação de incubadoras de negócios e de programas de aceleração que surgem por todo o lado em Portugal há já vários anos. Lisboa, por exemplo, tem hoje mais de 50 incubadoras (e.g. aqui), e qualquer cidade do nosso país, não importa quão pequena seja, tem hoje múltiplas ofertas de espaços de incubação.
As incubadoras são difíceis de definir dada a sua diversidade, mas genericamente são instituições públicas ou privadas que apoiam empresas na sua fase start up, de arranque, para que se desenvolvam até ao ponte de serem auto-suficientes. Dependendo de onde são formadas, tanto podem ser promovidas por instituições públicas e não terem fins lucrativos, como podem ser elas próprias empresas cujo objetivo é de algum modo lucrar com o processo de incubação. Embora algumas incubadoras (no names, please..) pouco mais ofereçam (vendam!) do que uma cadeira e uma secretária, é um conjunto de serviços e apoios específicos de cada uma que as torna numa mais valia para a start up – este artigo do Observador descreve bem esta mais valia que as incubadora podem e devem trazer.
A exuberância de empreendedorismo em Portugal e a concomitante proliferação de incubadoras não foi, infelizmente, acompanhada por um crescimento económico do nosso país, e não podemos deixar de olhar para o panorama das nossas incubadoras para tentar perceber algumas das causas. Sem desprimor para o trabalho positivo que muitas têm feito apoiando toda uma nova geração de empreendedores, o que me parece que está menos bem no nosso ecosistemas empreendedor é a falta de espaços de incubação com especialização temática, ou seja, que tragam mais valias específicas para setores específicos de actividade. A minha experiência pessoal de criar projectos de novos produtos e serviços nas área da saúde e do alimentar tem-me revelado que, para quem se inicia nestas lides, o esforço de aprendizagem, estabelecimento de contactos, procura de condições físicas para estabelecer a ideia, etc. são imensamente frustrantes e cansativos. Isto deve-se em grande parte ao esforço de descoberta, em que uma palavra de alguém conhecedor da área poderia reduzir a quase zero. Este é o papel das equipas que gerem as incubadoras e a sua rede de mentores, bem como das instituições promotoras que têm que ter a infraestrutura física e serviços adequados para a empresa se estabelecer e prototipar a sua oferta. Nenhuma incubadora consegue alavancar mentores em todos os setores, com todas as suas sub-áreas de especialização e distintos modelos de negócio, para que possa representar uma mais valia real a todos os seus incubados. A questão da angariação de fundos, algo que muitas novas empresas necessitam no seu crescimento, também sofre por falta de especialização, pois não é possível fazer um esforço de recrutamento de investidores, nacionais e estrangeiros, conhecedores e com apetência de investimento em todas as áreas presentes numa incubadora genérica. A infraestrutura física na área da saúde é igualmente importante, pois são necessários espaços com características muito específicas em alguns modelos de negócio, por exemplo laboratórios para I&D biomédica; há também a questão de licenciamentos específicos que são indispensáveis para oferta de produtos ou serviços ao consumidor final, cuja compliancerepresenta um enorme investimento para uma empresa que ainda não se validou comercialmente – não basta ter secretárias e cadeiras para projectos na área da saúde! A questão da prototipagem é igualmente importante – se para um novo fármaco o caminho é claro, é o ensaio clínico, um novo software de gestão hospitalar, ou tipo de cadeira ergonómica, ou programa de actualização para enfermeiros/as já necessidade ser testado diretamente com o consumidor final, e que se este teste depender de chegar primeiro ao mercado, então o risco de cada projecto aumento imenso.
É aqui que a Healthcare City aposta em se diferenciar. É uma incubadora dedicada à Saúde e Bem Estar promovida pela Nova Medical School e por três empresas multinacionais do setor, Lusíadas Saúde, Janssen e Mediscom um modelo de trabalho diferente das incubadoras que temos hoje no nosso mercado, e que queremos que venha suprir essa lacuna e complementar o nosso ecossistema de empreendedorismo na área da saúde (um disclaimer: eu faço parte da equipa da Healthcare City, pelo que falo da perspectiva do true believer). Em que é que esta incubadora se diferencia? Primeiro, tem a indústria do setor na sua base, apostadas e investidas no seu sucesso (i.e. estando a investir recursos e pessoas), com o objectivo de identificar e apoiar, e quem sabe recrutar, bons projectos nesta área. Querem levar novas empresa com produtos e serviços inovadores para o mercado global, e sendo elas representando deste mercado, é óbvio perceber a enorme mais valia que representam para o empreendedor. A incubadora tem uma equipa multidisciplinar dedicada a apoiar permanentemente as empresas no seu crescimento bem como um fundador académico, a Nova Medical School, que representa também o setor da educação e treino em saúde, uma das grandes áreas de mercado deste sector. A disponibilidade de espaços especializados nas várias instituições e vontade de ser parceiro em testes de novos produtos ou serviços preside à lógica da incubadora. Para além disso, o seu modelo de negócio é tal que só sucede se as empresas incubadas sucederem, ou seja, se não conseguir identificar, atrair e promover eficientemente novos projectos na área da saúde, considera-se que falhou e será certamente descontinuada. Aqui, na minha opinião, reside um grande contraste com os projectos de incubação promovidos por entidades públicas – é que toda a equipa TEM QUE fazer este projecto funcionar, e como tal temos ainda mais motivação para garantir que às ‘nossa’ empresas é dado tudo o que necessitam para se desenvolvem e afirmarem. E a métrica de sucesso é clara – projectar empresas para o mercado global da saúde. E por isso no seu início de actividade está a atrair muitas start ups de outros continentes que querem vir para Portugal para crescer na Healthcare City